30.7.18

A distância me dava um certo poder. Sentia-me capaz de fazer tudo, pensava ordenadamente nas coisas, ordenava passos, organizava agendas e até arranjava tempo para novidades. Não estou mais longe, estou dentro. Aqui dentro sou um prisma de incapacidades, um caleidoscópio de ansiedades, cada imagem dizendo pra outra como é ridícula e como todos os planos que fez eram românticos. Nada vai dar certo, não considerei isso, ou aquilo, ou ainda não sou capaz... E, da mesma forma que no caleidoscópio, as peças dentro do prisma são ignoradas, foco minha atenção no jogo de imagens e no que elas dizem. Além disso, o mundo, cicatrizado pela minha existência, só reforça estereótipos que criei de mim mesmo e que me custa tanto abandonar.
É uma luta que luto sozinho. Sem, muitas vezes, a minha própria companhia. Sem, muitas vezes, minha própria paz, minha própria segurança. Também ando em conflito com as imagens que se formam nesse prisma, com o que falam...
Nessa metáfora sou quem olha, sou as pedrinhas coloridas jogadas lá dentro, sou também os espelhos que criam as imagens. E, as imagens, uma vez criadas, falam por mim porque também são, cada uma, eu.
Fecho os olhos, arremesso para longe o caleidoscópio, estou sozinho. Sei que ainda existo lá, infinitas reflexões de mim mesmo me mostrando quão impossível é ser o que pretendo ser. Quão insignificantes são as pedrinhas coloridas... Que intensidade têm os reflexos!
E você sorri. Seus espelhos alinhados lado a lado refletem uma única imagem de si, pra melhor, ora pior. Mas elas nunca conversam... Pois as minhas estão a brigar. Eu mesmo, pra manter a sanidade, enlouqueço.
Sozinho de mim, preciso me fortalecer. Enquanto isso o mundo gira, coisas acontecem e eu sorrio e aceno. Enquanto estava longe não conseguia ouvir o que se passava aqui dentro.

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