27.6.16

A cabeça encostada no vidro frio e o olhar livre. Pensamentos desdobrados podiam criar à vontade, eu estava de carona. No começo da noite, que há muito avizinhava o final do dia, observei um vulto a mover-se pelo seu apartamento. E a silhueta enegrecida movia-se sobre o plano amarelado da luz incandescente de seus aposentos. Dançava. Tinha certeza que dançava. E não estava só, dançava para alguém, estava a fazer graça, juro que pude até ouvir seu riso depois de uma sequência de piruetas. Riso de quem está à vontade para se entregar. Dançava, fazia graça, deixava seu corpo tombar na silhueta do sofá. As sombras agora eram uma só e minha bailarina já não existia mais, mas ainda a via dançar e ouvia seu riso. Girava e girava, abria e fechava os braços, olhava pra mim e não me convidava para dançar, sabia que o que mais me agradaria era ver ela me vendo vendo-a dançar. E seu riso vinha calentar meu peito e a solidão que aqui fez ninho já sabia que teria que brigar. E riu seu riso mais uma vez, entrelaçou seu olhar ao meu, sem dúvida amávamos. 
E numa curva mais acentuada toda minha realidade colapsou e voltei a viver esse sonho do qual não vejo a hora de acordar. Sonhava que pegava carona.

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