29.9.15

A cabeça baixa. As mãos com os dedos entrelaçados deveria servir para alguma coisa, algum tipo de antena capaz de captar as palavras que ora entram na minha cabeça sem serem convidadas, ora saem dela sem que eu possa me dar conta de que palavra era aquela. O grande problema de querer dizer, de querer expressar aquilo que só se sente.

Só algumas frases, só disso que eu preciso... Algumas palavras bonitas, nem precisa de muito - só um pouco de articulação entre suas partes e pronto, consigo escrever isso aqui. Um cartão, é isso que estou escrevendo. Um cartão para uma pessoa especial e não consigo transparecer aquilo que ela precisa saber. Não consigo projetar no papel a imagem do quão especial ela se tornou para mim durante esses anos todos. Poderia dizer que amo, mas o amor já se expressou de tantas formas que não conseguiria certificar-me de que o mesmo amor que estou dizendo será o mesmo que ela estará recebendo. Poderia me perder se tentasse explicar os limites daquilo que estou chamando de amor. Se é que esses limites estão claros para mim.

Um cartão. O que deve estar presente em um cartão? Será que a expressão daquilo que sinto é, realmente o melhor conteúdo de um cartão? Talvez devesse expressar um desejo: "Seja feliz". Mas parece de uma presunção tão grande que me sinto ordenando a forma como ela deverá ser - caminho errado. Também há tantas formas de felicidade que não poderia ter certeza se estou sendo recebido da mesma forma que fui mandado.

Talvez essa diferença nas interpretações seja inevitável, talvez devesse apostar nisso, inclusive. Deixar que ela utilize dos significados da forma que quiser! É isso, usar do significado que quiser para aquilo que eu ainda não sei como escrever. Mas será que ela incorporará todos os significados, será que não ficará inculcada, tal como eu estou agora, com quais significados ela deverá utilizar, quais não? Explicar-me seria maçante. Preciso achar uma forma decente e objetiva de me expressar.

Será que devo desejar as coisas "para sempre"? Ou será que me limito ao mais realista espaço de um ano, até o próximo aniversário dela quando posso renovar os votos? Será que me prendo ao futuro mesmo, desejando que seja feliz? Será que não devo valorizar o passado pelo que foi, por onde nos trouxemos?

Acho que já sei o que escrever e como escrever. Desculpem, não vou dizer - ainda é uma surpresa para ela. Mas será sobre o que sinto e sobre a perspectiva do que desejo a ela no futuro - para todos os significados possíveis de "desejo" e de "futuro".

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